quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Desastres naturais: culpa do clima ou do homem?

Desastres naturais: culpa do clima ou do homem?

Sociedade e natureza não estão se dando muito bem ultimamente

É comum ouvirmos no noticiário que uma tempestade de neve no norte dos Estados Unidos devastou uma cidade inteira, ou então que um vulcão entrou em erupção no Havaí, um tsunami atingiu a costa da China e um terremoto matou milhares de pessoas nas Filipinas. Mas todas essas catástrofes ambientais acontecem só no exterior ou com o aquecimento global e as mudanças climáticas, o Brasil também tem chances de ser atingido pela fúria da natureza?
Apesar de muitos acharem que não, no Brasil, ocorrem tremores de terra com muita freqüência, principalmente na região centro-oeste. O mais intenso deles, inclusive, chegou a 6,2 graus na escala Richter e matou uma menina de cinco anos. Mas como essas catástrofes podem acontecer se o Brasil está no centro de uma placa tectônica?

Catástrofes naturais também acontecem no Brasil

“O tremor mais forte já registrado no Brasil, em Porto dos Gaúchos (MT), aconteceu em 1995”, relata o especialista em meteorologia dinâmica sinótica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Expedito Ronald Gomes Rebello; “a explicação mais plausível para tal efeito encontrada pelos estudiosos é devido ao grande crescimento demográfico na região, com o aumento do número de pessoas, crescem as construções, prédios e rodovias, tudo isso faz peso sobre a terra, que nem sempre está preparada para receber tantas toneladas. O tremor seria como uma resposta ao dano que causamos para o solo. Hoje, a concentração demográfica da região é muito maior, então dá para se imaginar o que pode acontecer se houver um terremoto igual novamente, e vai haver outro, não sei quando - posso até nem estar mais vivo - mas vai haver”, completa.
Os desastres causados pelo clima não param por aí e o aumento populacional também não é o único motivo porque eles atingirem o Brasil. O aquecimento global, por exemplo, é um fenômeno que altera o ritmo das chuvas e a temperatura ambiente e do solo, além de interferir na umidade do ar.Tudo isso, somado a habitações indevidas em morros levam a uma tragédia, como já aconteceu em Santa Catarina em 2008, que afetou em torno de 60 cidades, matou 135 pessoas, 9.390 habitantes foram forçados a sair de suas casas para que não houvesse mais vítimas e 5.617 ficaram desabrigados.Em 2011, o caso voltou a se repetir, dessa vez no Rio de Janeiro, e os números foram ainda piores, 916 pessoas morreram e a tragédia foi classificada como a maior de todo o país.Ainda podemos contabilizar acontecimentos isolados, principalmente no Espírito Santo e em Minas Gerais que envolvem chuvas, deslizamentos de terras e mais vítimas.
Além da fúria da água, o Brasil presencia outros fatores climáticos. Não temos ainda tsunamis ou vulcões, mas o país é o que mais recebe descargas elétricas por dia. De acordo com o Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Brasil tem a maior porcentagem de mortos por esse tipo de incidente e é o país que mais sofre prejuízos econômicos em decorrência de tempestades elétricas. Osmar Pinto Júnior, coordenador do Grupo de Eletricidade, relata que o território brasileiro é atingido por 70 milhões de raios por ano, ou seja, de duas a três descargas elétricas por segundo.
As condições extremas que estamos costumados a ouvir na televisão, como a época de seca no nordeste e intensas chuvas no sul também estão mudando. Expedito explica que “o sul não só tem as tempestades, ocorrem alguns anos com extrema estiagem, enquanto o nordeste não tem só seca, mas também períodos chuvosos extremos, em anos de La Niña chove muito no nordeste, por exemplo”.O fenômeno La Niña corresponde ao esfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical e algumas de suas consequências no Brasil são: passagens rápidas de frentes frias sobre a região sul, temperaturas ligeiramente baixas no sudeste durante o verão e chegada das frentes frias até a região nordeste.
Alguns termos técnicos
Furacões, tufões, tornados, trombas d’água e hazards são todos termos relacionados à meteorologia, mas esses fenômenos ocorrem no Brasil também?Primeiramente é interessante distinguir os termos, já que muitos os confundem. Expedito Rebello explica que “a formação dos furacões acontece na costa da África, no Oceano Atlântico equatorial, por causa da força de Coriolis se deslocar para os países do Caribe, às vezes chega a atingir a costa do México e sul dos EUA. Os tufões, por sua vez, ocorrem no Oceano Pacífico e atingem as Filipinas, Indonésia, costa leste da Ásia e Japão. Já o tornado é uma coluna de ar giratória, que se desloca a uma velocidade de 30 km/h a 60 km/h em volta de um centro de baixa tensão. Apesar de pequeno, é um intenso redemoinho de vento que ocorre quando uma nuvem em movimento alcança a terra. Quando se forma sobre a água, o tornado é denominado tromba d'água, tem um diâmetro de no máximo 2 km e uma duração rápida de minutos, quando não toca no caho (superfície) é chamado de nuvem funil”.
Quanta a hazard, o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e especialista em riscos climáticos, Gilberto Rocca da Cunha afirma que “pela sua importância e reflexos sociais e econômicos, deveria ser um termo de domínio popular”. Especialistas na área de meteorologia, contudo, têm dificuldades para traduzir a palavra para o português.O geógrafo e professor da USP, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, destacou, em 1991, em um dos seus seminários de pós-graduação, que o termo faz referência aos chamados eventos naturais extremos, que incluem desde os internos, caso dos sismos e vulcanismos, até os atmosféricos.

Existem hazards no Brasil?

Os hazards mais conhecidos envolvem fenômenos atmosféricos, como avalanchas (de neve), secas, enchentes, geadas, granizadas, descargas elétricas, vendavais, tornados e ciclones tropicais. E o que todos eles têm em comum é a interação entre natureza e sociedade.Esses fenômenos, portanto, envolvem uma força humana muito influente, ainda mais se considerar que o mau uso da natureza aumenta a probabilidade de riscos.
A ocorrência de neve no Brasil, no inverno, nos estados do sul, é comum, como em Cambara do Sul, Bom Jesus, São Joaquim, Urubici e Palmas (Paraná). O registro, porém, de avalanches e tempestades de neve ainda não foi feito. “A possibilidade de Tsunami na costa brasileira não é descartada”, afirma Expedito, “nem impossível, pois temos placas tectônicas no meio do Oceano Atlântico, que poderiam se mover bruscamente e gerar uma enorme onda em direção ao litoral; tudo depende de como o homem vai continuar a sua interação com a natureza”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário