quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Gabriela Cravo e Canela - Jorge Amado

Gabriela Cravo e Canela - Jorge Amado


Escrita por Jorge Amado em 1958, a obra Gabriela Cravo e Canela, um romance regionalista, rendeu ao autor cinco importantes prêmios e uma excepcional aceitação pelo público, sendo também êxito no estrangeiro, tendo sido traduzida em quinze línguas. Este sucesso deve se principalmente a maneira do autor, com seu espírito jovial, de escrever e trabalhar tão bem suas personagens.
Ao lermos o livro percebemos duas principais vertentes que ocorrem paralelamente e que conduzem todo o romance:
a.. O amor entre a mulata Gabriela e o sírio Nacib. O campo amoroso da narrativa.
b.. A chegada do progresso em Ilhéus, local onde se passa a história. O campo social e político da narrativa.
Personagens
Iremos a seguir mostrar os personagens principais e secundários divididos de acordo com seus papéis.
a.. Personagens Protagonistas (no campo amoroso).
Consideramos Gabriela e o turco Nacib os protagonistas da história devido ao romance vivido entre eles e a importância deste no romance.
Gabriela- Moça de grande vitalidade que reúne grandes características do biótipo nortista do interior, sendo retirante fugida da seca. Animada, bem disposta, era bonita e por onde passava chamava atenção dos homens, provocando inveja nas mulheres. Não era mulher de relacionamentos mais sérios como o casamento nos quais se sentia "presa". A traição na sua relação com Nacib ocorreu devido a este fato. Importante: é Gabriela que dá ênfase à trama.
"Caído o braço roliço, o rosto moreno sorrindo no sono, ali, adormecida na cadeira, parecia um quadro. Quantos anos teria? Corpo de mulher jovem, feições de menina."
Este trecho exemplifica e exalta a beleza física de Gabriela.
Nacib- O personagem é fundamental não só pela sua relação com Gabriela mas também pelo fato de ser dono do mais importante ponto de encontro da região, o Bar Vesúvio. Era imigrante vindo da Síria e não gostava de fazer parte de nenhum laço político. Pensava ele que se fizesse parte da política poderia perder clientela em casos de desentendimento, já que todos da sociedade freqüentavam seu bar. É ele o primeiro homem, na narrativa, a se encantar com a beleza de Gabriela. Era, de acordo com o próprio livro, "um enorme brasileiro, alto e gordo, cabeça chata e farta cabeleira, ventre demasiadamente crescido..." Possuía ainda frondosos bigodes, um rosto gordo e bonachão, além de uma boca grande de sorriso fácil.
"Do que não se recordava mesmo era da Síria, não lhe ficara lembrança da terra natal tanto se misturara ele à nova pátria e tanto se fizera brasileiro e ilhense."
Trecho da narrativa referente a Nacib e sua nacionalidade.
2.Personagens Antagonistas (no campo amoroso)
Para considerarmos uma personagem antagonista devemos analisá-la e assim ver o seu verdadeiro papel na narrativa. No caso deste romance consideramos a personagem Tonico Bastos como a antagonista. Pelo fato de ele ser o fator determinante na traição entre Gabriela e Nacib.
Tonico Bastos- Filho do coronel Ramiro Bastos, possuía a fama de conquistador. Sua razão de viver era esta, o de ser o irresistível. Andava sempre bem vestido, e com um andar despreocupado. Tinha muito sucesso com as mulheres e as opiniões sobre ele variavam em Ilhéus, uns o consideravam bom rapaz e inofensivo. Outros achavam ele burro, covarde e preguiçoso.
Foi este seu jeito que conquistou Gabriela, fazendo com que ela se esquecesse de Nacib por um momento.
"De nenhum outro temera tanto Nacib a concorrência, ao contratar Gabriela, quanto de Tonico. Não era ele o conquistador sem rival, o tombador de corações?"
Trecho que mostra a preocupação de Nacib em relação a seu amor Gabriela e o conquistador Tonico Bastos.
3. Personagens Secundários (no campo amoroso)
São personagens da conturbada vida amorosa e doméstica de Ilhéus ou ainda personagens relacionados ao cotidiano de Gabriela, Nacib ou de Tonico Bastos. A seguir citaremos algumas personagens neste campo.
As irmãs dos Reis- Duas grandes cozinheiras de Ilhéus, Quinquina e Florzinha eram também muito conhecidas por terem construído um enorme presépio. Neste encontravam-se além de imagens santas, imagens de personalidades que foram importantes na história do Brasil.
Malvina- Por ser jovem e mulher era muito controlada pelo pai, o que era muito comum na época. Por outro lado era a única que possuía coragem para requerir seus direitos. Acabou fugindo de Ilhéus para não ter que casar com quem não queria.
Filomena- Empregada de Nacib desde que ele comprara o bar, acaba indo embora para morar com o filho Vicente. Abrindo então uma vaga que posteriormente será ocupada por Gabriela.
No campo político os personagens estão divididos em duas principais alas: a ala dos que querem e estimulam o tão falado progresso e aqueles que são contra os desejos desta ala progressista. Através da leitura podemos perceber que os progressistas são (no campo político) os protagonistas. O antagonismo está na maneira conservadora de pensar da outra ala, anti-progressista. Os membros desta ala são os antagonistas neste campo.
Alguns protagonistas (campo social e político).
Mundinho Falcão- Raimundo Falcão, exportador de cacau. O seu principal objetivo era aumentar a produção de cacau, e possibilitar que o cacau fosse exportado sem ter que antes passar pelo porto da Bahia. Era o símbolo do progresso.
"Mundinho Falcão chegou aqui outro dia, como diz Amâncio. E veja quanta coisa já realizou: abriu a avenida ...Trouxe os primeiros caminhões, sem ele não saía o Diário de Ilhéus nem o clube Progresso."
Este trecho define bem o espírito progressista de Mundinho Falcão.
Capitão- Miguel Batista de Oliveira, o Capitão, era aliado a Mundinho Falcão nas disputas políticas. Possuía um nariz grande e curvo, era moreno e estava sempre vestido de impecável roupa branca. Era uma das grandes personalidades da cidade.
O russo Jacob e seu sócio Moacir Estrela- Foram eles que organizaram uma empresa de transportes para explorar a ligação rodoviária entre as duas principais cidades de produção de cacau. Isto foi um progresso já que a viagem rodoviária através das marinetes era muito mais rápida e barata que através da ferrovia, a mais comum na época.
"Que coisa! Quem diria! Trinta e cinco quilômetros em hora e meia...Antigamente a gente levava dois dias, a cavalo..."
Percebe-se por este trecho da narrativa a vantagem da viagem por rodovias através das marinetes.
Alguns membros da Igreja podem aqui ser incluídos (Padre Basílio), já que muitos deles possuíam terras sendo interessante a chegada do progresso.
Antagonistas (campo social e político)
Coronel Ramiro Bastos- Considerado um verdadeiro cacique local, por ser um dos mais antigos moradores de Ilhéus. Era contra a política progressista de Mundinho Falcão, com o qual disputava o poder político da região.
Coronel Amâncio Leal- Era um homem calmo, porém que já havia lutado muito por terras da região, era um célebre chefe de jagunços. A ele pouco interessava todas aquelas inovações do progresso.
Na verdade podemos dizer que praticamente todos os coronéis, os homens com origem naquela terra e que lutaram por ela, não queriam o progresso, não queriam que seu tipo de vida mudasse.
Principais Momentos
Por ser um romance percebemos dentro do enredo várias "sub-histórias" podendo então se localizar pequenos conflitos e até pequenos desfechos caracterizando um pequeno universo. Mas de qualquer forma podemos dividir a obra de acordo com seus principais acontecimentos.

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