Finalizando…
Para grande parte da juventude brasileira, aquela que de alguma
forma foi excluída antes de
concluir o ensino básico, parece que a ex-
periência escolar pouco contribuiu
e contribui na construção da sua
condição juvenil, a não ser pelas
lembranças negativas ou, o que é tam-
bém comum, pela sensação de
incapacidade, atribuindo a si mesmos a
“culpa” pelo fracasso escolar,
com um sentimento que vai minando a
auto-estima. Esses jovens já vivem
sua juventude marcadas pelo signo
de uma inclusão social subalterna,
enfrentando as dificuldades de quem
está no mercado de trabalho sem as
certificações exigidas.
Para aqueles que freqüentaram
e freqüentam o ensino médio,
parece que a escola contribui, em
parte, na construção e na vivência
da sua condição juvenil. E é em
parte, porque a escola perdeu o mo-
nopólio da socialização dos
jovens, que vem ocorrendo em múltiplos
espaços e tempos, principalmente
naqueles intersticiais dominados
pela sociabilidade, como vimos. Essa
constatação traz conseqüências
significativas. Implica reconhecer
que a dimensão educativa não se re-
duz à escola, nem que as propostas
educativas para os jovens tenham
de acontecer dominadas pela lógica
escolar. Implica investir em políti-
cas que considerem a cidade na sua
dimensão educativa, garantindo o
direito de ir-e-vir, até mesmo nas
noites dos finais de semana, o acesso
a equipamentos de cultura e de
lazer, mas, principalmente, transfor-
mando o espaço público em espaços
de encontro, de estímulo e de am-
pliação das potencialidades
humanas dos jovens, e possibilitando, de
fato, uma cidadania juvenil.
Todavia, a escola também só
contribui em parte, porque a
vivência juvenil no cotidiano
escolar é marcada pela tensão e pelos
constrangimentos na sua difícil
tarefa de constituir-se como aluno. Não
significa, porém, que negamos os
avanços que ocorreram nesta ultima
década, principalmente no que diz
respeito ao acesso. Afinal, esses jo-
vens hoje freqüentam o ensino
médio, de onde eram sistematicamente
excluídos. Mas, se a escola se
tornou menos desigual, continua sendo
injusta. E assim é, devido, em
grande parte, ao fato da escola e seus
profissionais ainda não
reconhecerem que seus muros ruíram, que os
alunos que ali chegam trazem
experiências sociais, demandas e necessi-
dades próprias. Continuam lidando
com os jovens com os mesmos
parâmetros consagrados por uma
cultura escolar construída em outro
contexto.
A escola tem de se perguntar
se ainda é válida uma proposta
educativa de massas, homogeneizante,
com tempos e espaços rígidos,
numa lógica disciplinadora, em que
a formação moral predomina so-
bre a formação ética, em um
contexto dinâmico, marcado pela flexibi-
lidade e fluidez, de
individualização crescente e de identidades plurais.
Parece-nos que os jovens alunos, nas
formas em que vivem a experiên-
cia escolar, estão dizendo que não
querem tanto ser tratados como
iguais, mas, sim, reconhecidos nas
suas especificidades, o que implica
serem reconhecidos como jovens, na
sua diversidade, um momento pri-
vilegiado de construção de
identidades, de projetos de vida, de experi-
mentação e aprendizagem da
autonomia. Demandam dos seus profes-
sores uma postura de escuta – que
se tornem seus interlocutores diante
de suas crises, dúvidas e
perplexidades geradas, ao trilharem os labi-
rintos e encruzilhadas que
constituem sua trajetória de vida. Enfim,
parece-nos que demandam da escola
recursos e instrumentos que os
zação juvenil.
tornem capazes de conduzir a própria
vida, em uma sociedade na qual
a construção de si é fundamental
para dominar seu destino.
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